Reciclando a vida

Meu nome é Marilda Aparecida Tavares, tenho 67 anos, sou paulista e moro na Ilha Grande há 26 anos, por isso me sinto um pouco carioca. Minha vida aqui não foi nada fácil, já era viúva quando vim para a ilha, trabalhei como faxineira, acabei de criar meus filhos e cada um seguiu seu caminho.

Desativou-se o presídio e a vida foi ficando meio que parada, a monotonia tomando conta de tudo, até que um belo dia, por intermédio do Ecomuseu e pelas mãos do Ricardo, então diretor, vieram oficineiros para mostrar a arte de transformar em belas peças um lixo que só nos trazia desgosto.

Através deles tivemos aulas e eu me apaixonei pela garrafa pet como matéria prima de trabalho. Começamos fazendo peixes e depois parti para outras peças, como saboneteiras, porta-escovas e creme dental, porta-papel higiênico, vasos e flores – que são minhas preferidas! Mas como tudo na vida tem altos e baixos, meu segundo marido adoeceu, meu neto sofreu um grave acidente e eu perdi o emprego.

Tudo isso me deixou sem chão, aí me agarrei com muita força no artesanato, pois precisava dele para não entrar em uma depressão e não pensar no que estava acontecendo. Mesmo nos momentos mais difíceis continuei a trabalhar com meus artesanatos e vendê-los no Ecomuseu. Moro sozinha, todo dia que nasce é uma nova ideia para uma nova peça. Não me interessei pelo artesanato com pet pela renda, mas sim pela terapia ocupacional e pelo prazer que tenho em tirar das ruas
um lixo que é o terceiro pior do mundo – o primeiro é o lixo atômico e o segundo o lixo hospitalar.

Já que o lixo pet não tem prazo de validade para se desfazer na natureza, então, que tal, darmos utilidade a ele?
Fazer deles peças lindas para embelezar nossas casas e de amigos? Foi isso que me propus a fazer: tirá-lo das ruas e transformá-lo em arte. Vamos lá, tenha uma boa ideia e pratique, como eu!

Marilda, moradora de Dois Rios e artesã