Madame Satã

Seu nome de batismo era João Francisco dos Santos, e ele nasceu em Pernambuco, junto com o século, ou seja, em princípios do ano de 1900. Veio para o Rio bem novo, tendo morado na favela do Caju, perto do Cais do Porto. Já começou a treinar capoeira, tendo demonstrado excelente disposição para a luta, muito popular entre os chamados malandros da época.

Afirmava não gostar de armas de fogo, embora seu primeiro crime e consequente condenação ocorressem em função de um tiro de revólver em um policial que, segundo ‘Satã’, o perseguia sem razão.
Teve mais outros 28 processos criminais, sendo 2 por homicídio. Cumpriu 27 anos e 8 meses de pena nos
presídios da Ilha Grande, sendo libertado aos 65 anos de idade, de acordo com a prática penal.

Tinha uma filha adotiva chamada Ivonete, além de afirmar ser pai de mais 7 filhos. Solto, continuou morando no Abraão por medida de segurança. Teve amizade com muitos artistas que vinham ao Abraão procurá-lo. Norma Benguell, por exemplo, acompanhou Satã durante todo o episódio de sua doença,
junto com Ziraldo. Satã foi internado no Hospital do INAMPS, em Ipanema, onde faleceu no
dia 2 de abril de 1976, às 17 horas e 30 minutos.

Era muito respeitado entre os presos da Ilha, mesmo os mais violentos e mais conhecidos. Ao contrário do que se imagina e até do que alguns desinformados dizem, ‘Satã’ no tempo em que viveu no Abraão nunca teve rompantes de violência ou valentia, nunca bateu em ninguém e viveu uma vida de trabalho, sob as vistas das autoridades policiais da época, que eram muito atentas quanto ao que ocorria na comunidade.

Renato Buys, Morador do Abraão