Em meio à alegria, ao amor e à cultura da Ilha

Conheça um pouco de Nathalicio José Martins, de 84 anos, que acompanhou o conjunto Prata da Casa durante anos, alegrando os bailes do Abraão.

Conte sobre sua vida na Ilha Grande…
Hoje eu estou com 84 anos. Vim com cinco anos de Mangaratiba para a Ilha com o meu pai, que criou a 1ª padaria do
Abraão. Em 1949 fui para o Rio de Janeiro servir à Aeronáutica e depois voltei para a Ilha para ajudar meu pai com o
trabalho. Em 1956 fui trabalhar no presídio da Praia Preta e, logo depois, no presídio de Dois Rios. Na Ilha minha maior
diversão era jogar futebol, assistir aos filmes no cinema do presídio e cantar.

Como foi sua ligação com o conjunto Prata da Casa?
Em 1990 passei a acompanhar o ‘Prata da Casa’, conjunto criado pelo Constantino Cokotós, que conhecia desde quando estudávamos juntos na escola. Acompanhava o grupo nos aniversários e na Folia de Reis, em que se comemorava a vida de Jesus Cristo. Apenas uma pessoa da família sabia que nós iríamos na casa, então entrávamos de surpresa e virávamos a noite de casa em casa, cantando músicas que versavam sobre a vida de Jesus.

Sobre que outros assuntos as músicas tratavam?
Falavam também da realidade da Ilha, de amor. Sem o amor ninguém vive, né? Então as músicas falavam sobre amor, decepção amorosa. Às vezes o cara estava só no bar tomando uma cerveja e escrevia uma música…

E por falar em amor, o senhor se casou por aqui?
Eu casei aqui na Igreja do Abraão, em 1960. Conheci a Deise nas férias que eu passava na Ilha, enquanto morava no Rio. Naquela época eu passava em Mangaratiba para vê-la, vinha visitar meus pais na Ilha, e depois voltava para encontrá-la. Tivemos quatro filhos, que cresceram aqui e só saíram depois de adultos. Fomos casados 48 anos, até 2008, quando Deise faleceu. Tem alguma história engraçada que o senhor pode contar pra gente? Sobre o presídio, o amor ou a música? Ah! Teve uma vez na Casa de Cultura que entrou uma senhora com duas muletas e dois homens segurando ela pelos braços. Eu estava tocando e a senhora foi se soltando dos homens e das muletas e saiu dançando. Depois disso começaram a me chamar de ‘cantor milagroso’.

Para você, a música pode mesmo ser um milagre?
A música, para mim, serve para alegrar e para manter a cultura da Ilha. A música foi responsável pela diversão de muitos que iam para o baile e dançavam a noite toda. Com uma viola, um chocalho e um pandeiro se fazia um baile. Recuperar a história é muito importante, por isso é fundamental dar continuidade ao conjunto ‘Prata da Casa’, como os jovens estão fazendo.

Entrevista elaborado por Ana Clara Martins, Jovem Monitora e neta de seu Nathalício