O fim do presídio trouxe turistas e mudanças

Em entrevista ao jornal Voz Nativa, Anderson de Araujo Pontes, professor de Geografia e atual diretor do ensino médio no Colégio Estadual Brigadeiro Nóbrega, contou sobre sua experiência no período que o presídio ainda funcionava na Ilha e das mudanças que vem acontecendo até os dias atuais impulsionadas pelo turismo.

Mesmo tendo nascido no Rio de Janeiro, ele se considera um “badjeco”. Sua família por parte de mãe tem raízes na Ilha desde o período colonial. Anderson sempre frequentou a Ilha e morou com seu pai, que era policial, em Dois Rios, no período em que aqui funcionava o presídio. Segundo ele, era um presídio de segurança máxima que não oferecia risco aos moradores.

Anderson lembrou também da fuga de helicóptero do traficante Escadinha em Dois Rios. Ele ainda era criança, com aproximadamente 11 anos, e não entendia muito bem toda a tensão daquele dia, mas com o tempo percebeu que aquele acontecimento se tornou um marco na história do presídio.

Com 40 anos, o professor lembra que os moradores da Ilha Grande eram dependentes do presídio, que fornecia para a população luz e até alimento. Naquele tempo, para chegar ao continente não era tão fácil como hoje, pois existiam poucas embarcações e a alimentação era baseada na pesca, plantações e o auxílio do presídio. Ele fala ainda que o turismo era discreto na época, não existindo a quantidade de pousadas e comércio que temos hoje.

Para ele, a Ilha Grande tinha mais peixes antigamente. Os pescadores conseguiam pescar mais qualidades e agora é mais difícil encontrar os peixes que antes era comuns. Conta que a sardinha nunca foi muito apreciada pelos moradores e até hoje não é muito diferentes, porém, já foi um importante meio de trabalho, pois na década de 80 muitas fábricas de sardinha funcionaram em vários pontos da ilha e empregavam muitas pessoas.

Anderson lembra que, quando era pequeno, ia caçar junto com o avô na mata e tinha uma grande diversidade de animais: paca, tatu, gambá, macaco, entre outros. Ele ressalta que hoje não é mais permitido a caça de animais silvestres e que a fiscalização ambiental trabalha para a preservação das espécies. Emocionado disse que guarda e usa com carinho o pente que foi de seu avô feito de osso.

Fala sério, JOU!

Uma nova realidade

Hoje, de acordo com o professor, temos outro contexto social. Depois que o presídio deixou de existir, o turismo não parou de crescer e a natureza passou a ser a principal fonte de renda: as praias, a mata, entre outros. Para ele o problema é quando quem atende o turista só está preocupado em ganhar e esquece-se de incentivar a preservação. Como exemplo ele citou que muitos vendem passeios de barco, sem ter a preocupação se o turista vai jogar a garrafinha de água vazia no mar ou deixar pela mata e desabafa:” Não tem problema, já pagou a passagem!”

Anderson pontua que o crescimento do turismo trouxe pontos positivos e negativos. A maioria dos moradores vive hoje direta ou indiretamente do turismo, que proporciona uma melhor condição financeira. Para ele, o ponto negativo é a invasão do turista “pirata”, que é aquele turista que vem para Ilha Grande, destrói, polui e não gera o mínimo possível de capital e vai embora deixando seu lixo.

 

Viviane Alves Mello