Um Passado Não Muito Distante
Ao escrever este artigo, me recordo saudosista de um tempo em que vivíamos apaixonados por uma ilha, em que mesmo sem luz elétrica, vivíamos mais próximos e felizes. Que doce lembrança trago na recordação da minha infância, em que após aquecida a água no fogo à lenha, tomávamos nosso banho de bacia. E depois, após o jantar à luz de velas ou de lampião, íamos forrar um pano e fazer o nosso travesseiro com um monte de areia, que ficava abaixo do lençol na altura da cabeça e deitar na praia para ouvir as histórias que nossos pais e avós contavam.
Muitas vezes, antes de deitarmos, corríamos na praia para brincar de pique esconde, roda, salada mista (como era bom e inocente brincar de salada mista, mesmo sob à luz do Luar)!
E o namoro escondido, na juventude…os pais saíam atrás das mocinhas, mesmo com um lampião a gás e levávamos muitas “broncas”, que na hora doía, mas valia à pena o esforço de sair às escondidas e encontrar com nosso amado namorado!
Lembro quando minha mãe ia para roça com minha avó e lá colhiam guando (espécie de feijão), colhiam também batata doce, cana, café, mandioca para fa-zer farinha. Nossa! A farinha feita no forno, saindo quentinha e o beiju delicioso para tomar aquele café de cana.
Lembro que era época de presídio, mas para alguns moradores até o famoso “preso” no mato não nos assustava. Não para nós crianças…dava um friozinho na barriga, mas era a oportunidade de dormirmos todos em uma só casa. Nos protegíamos assim.
Quando o presídio foi desativado a ilha se uniu para obter a energia elétrica. Conseguimos, tivemos mais conforto, os turistas foram chegando e os recebemos de braços abertos. Talvez tivéssemos abraçado demais, talvez fosse a novidade de receber pessoas novas, eu não sei. Só sei que a ilha não estava preparada, não havia se organizado para receber tantas pessoas. Víamos com a chegada do turismo um futuro promissor, mas a falta de estrutura e talvez a inocência dos moradores, foram o suficiente para nos entregarmos ao progresso. Mas, todo progresso tem suas consequências, a verdade é que fomos surpreendidos e oprimidos por muitas Leis que proibiam e proíbem o morador de realizar na sua simplicidade o que mais gostava de fazer. A verdade é que muitos jovens se desviaram por caminhos que, por ilusão ou por satisfação, se entregaram e assim abandonam de vez a sua raiz, a sua cultura.
A cultura de um lugar é a nossa história e ela jamais pode ser esquecida.
Saionara Maciel, Diretora da Escola Municipal Sylvestre Travassos, Araçatiba