Identidade Territorial
Desta vez eu irei comentar sobre sentimento de territorialidade. O porquê disto? Se eu estiver dentro da casa do meu melhor amigo, e ao desembalar uma bala jogar o papel da embalagem no chão da sala, com certeza, ele me chamaria a atenção por este feito.
Parece que quando saímos de nossa casa, a rua não nos pertence mais, a praça, a calçada, a praia etc. Podemos sim ter uma postura diferenciada para com o nosso bairro, mas para isto é necessário conhecer nossa história.
A história da Ilha Grande é muito antiga. Vamos encontrá-la nos livros do período das Grandes Navegações e nos registros navais e geográficos feitos pelo alemão Hans Staden, onde ele dava depoimento sobre os indígenas. Por pouco, não foi pelo nosso grande índio Cunhambebe, dos Tamoios desta região. Outro fato histórico foi a flotilha Inglesa de Cavendish que aportou no Abraão no ano de 1591. Os moradores antigos da região e os navegadores da época chamavam o Abraão de ABRÃO.
Não vou me aprofundar sobre os detalhes destas histórias, mesmo porque não sou historiador e isto está registrado para quem quiser pesquisar sobre diferentes períodos da Ilha Grande até os dias atuais. Mas gostaria de mencionar que, apesar de algumas pessoas não gostarem de história do país e do Mundo, ou qualquer outra que seja, tem uma história que o ser humano não pode deixar de conhecer, é a história dele mesmo, de seus pais, de seus avos e bisavós.
Esta é a única maneira dos seres humanos não darem continuidade a determinados erros, preconceitos do passado e também de valorizarmos as coisas boas que foram realizadas e deram credibilidade para a sua própria existência.
Hoje eu compreendo que, no período de 1900 à 1994, a Ilha Grande sofreu quatro influências econômicas e as leis ambientais também trouxeram para a comunidade grandes conflitos, já que esta não teve oportunidade ou tempo para acessar as informações do que estaria acontecendo na região, gerando grande desequilíbrio.
Para sua própria readaptação e sustentabilidade no local, algumas pessoas deixaram seus costumes de lado. Isto justifica a descontinuidade de atividades culturais locais. Se hoje ainda a cultura é vista mais ou menos legal no país, não precisa nem falar de um passado próximo de nossos agentes culturais. Imagine aqui na Ilha Grande.
O Brasil conseguiu construir alguma legislação no âmbito federal para cultura, aprovada agora em 2010. Podemos ver que o processo está apenas começando. O que não é justificável é que alguns moradores e pessoas que sobrevivem desta economia na localidade não têm conhecimento desta história no seu dia a dia para oferecer ao turista, que vem de diferentes lugares do mundo para nos visitar e ficam questionando: qual é a história disto, o que é aquilo? E assim vai nosso cliente embora com a mesma indagação.
O que é pior, são os jovens e adolescentes que vem reproduzindo a mesma desinformação, e com isto vamos desvalorizando a atual economia. A história e cultura do local seriam a cereja do bolo deste modelo econômico, um produto cultural extraordinário. E por falar em produto cultural, a economia atual destruiu uns dos últimos produtos culturais da Ilha Grande, em um período curtíssimo, entre sete e nove anos aproximadamente, a implantação econômica desordenada entrou em choque com que havia sobrado das atividades culturais tradicionais com uma relação comunitária. Foi proibido pela lei do silêncio, levando a extinção destas ações na região. O FORRÓ DE CASA.
Com esta ação egocêntrica de alguns comerciantes, hoje vejo que foi de uma ignorância sem mérito de classificação, o turista iria adorar estar na ilha e participar de um entretenimento cultural diferenciado ou único na região Costa Verde.
Após 20 anos do desenvolvimento da economia do turismo na Ilha Grande, e por estarmos entre o 2º ou 3º índice pluviométrico
do país, quando chove, o clima não fica muito agradável para o turismo náutico e ecológico, e nada mais se tem para oferecer.
Há não ser questionar, o que tem para se fazer? Esta foi mais uma reflexão sobre o sentimento de territorialidade para que você também possa rever os seus conceitos e suas práticas na Ilha Grande, e, que com este texto possamos refletir e contribuir com melhores idéias e
ações no conceito coletivo para região.
Adriano Fabio da Guia – Contramestre de Capoeira, Coordenador do Projeto Arena Cultural da Ilha Grande e do Centro Cultural Constantino Cokotós.
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