Os Sambaquis da Ilha Grande
Por volta de 10 mil anos atrás, as transformações da natureza foram responsáveis pelo deslocamento das populações que habitavam o continente americano. A elevação dos níveis de temperatura e dos oceanos motivou os homens dessa época a se deslocarem para as regiões litorâneas da América. A presença humana nessas localidades foi comprovada por meio de aglomerados de conchas e restos de peixes com alguns metros de altura.
O nome desse tipo de formação calcária ficou conhecido como sambaqui, termo em tupi que significa “monte de conchas”. A tese mais comum sobre a existência dos sambaquis explica que a sucessão de comunidades litorâneas foi responsável pela acumulação de conchas, ossos de peixes e outros restos de alimento próximos a vestígios de casas e ossadas humanas. Sabe-se que os sambaquieiros, de norte a sul do Brasil, eram pescadores, juntavam conchas, construíam morros e ali enterravam seus mortos. Mas desde a função dos sambaquis até as habilidades manuais desses grupos, passando por rituais de sepultamento e de manejo de vegetais, há diferenças marcantes de uma região para outra.
No Rio de Janeiro, os grupos fabricavam lâminas de machado, pontas de lanças e outras, utilizadas para a pesca. No sítio Ilhote do Leste, na Ilha Grande, Maria Cristina Tenório, arqueóloga do Museu Nacional, estima que teriam sido polidas mais de 200 mil pedras para servirem como lâminas. Ainda hoje, caminhando na região, pela praia do Aventureiro, podem ser vistos os blocos de pedra usados para fabricar essas ferramentas. Como não há sinais de conflitos internos ou com outros grupos, acredita-se que essas ferramentas serviam para cortar a madeira para a construção de canoas e cabanas, ou em trocas com grupos de outros sambaquis próximos.
A formação dessas comunidades corresponde à transformação dos hábitos alimentares do homem pré-histórico das Américas. Com o passar do tempo, a caça e a coleta perderam espaço para uma dieta marcada pelo sistemático consumo de peixes, crustáceos e outros frutos do mar. Nos terrenos próximos aos sambaquis, foi comprovado, através de achados, que suas comunidades desenvolveram o artesanato, a escultura e trabalharam com a pedra polida ( que era feito com água, areia e pedra na pedra).
No Brasil, os Sambaquis podem ser encontrados ao longo do litoral nordestino, no Rio de Janeiro , em São Paulo, e em outras partes do litoral gaúcho. Os maiores sambaquis brasileiros foram encontrados nas cidades de São Francisco do Sul, Jaguaruna, Laguna e Garuva, no estado de Santa Catarina, onde temos formações com 30 metros de altura e 400 metros de extensão. O mais antigo sambaqui brasileiro foi encontrado no Vale do Ribeira, em São Paulo, e tem aproximadamente nove mil anos de existência. Mais do que reportar um dado do passado, a pesquisa sobre os sambaquis traça o surgimento e os deslocamentos humanos nas Américas, responsáveis pelas transformações ocorridas até os dias atuais.
Júnior Barros
Bibliografia: http://guiadoestudante.abril.com.br/